quinta-feira, 28 de março de 2013

Sinto falta de mim


O vento varre ruas, acaricia rostos estranhos, pelos e cabelos, arranca folhas, levanta saias, carrega papéis e, mesmo assim, entra pela janela do meu quarto incolor e sem cheiro algum, fazendo-se perceptível apenas pela sutil sensação que provoca na superfície de minha pele e pelo alvoroço de minhas cortinas, sempre muito alegres ao recebê-lo.
O vento transita e se mistura a mundos e pessoas, mas continua sendo o que é. Incorrupto e impassível, ele não se finge de brisa nem de tempestade: é apenas aquilo ali, que todos já conhecemos.
Há de se ter muita coragem para ser como o vento: cru e essencial. Coragem essa que não é digna de todos nós, humanos, que sempre carregamos migalhas dos lugares e dos outros em nossas roupas.
É fatal ao homem essa facilidade de se deixar violar pelo ideal coletivo. Em nosso subconsciente, até aquilo que juramos ser de nossa própria vontade é movido por ideias alheias, pela ética e pela moral. Por esse defeito, pagamos com nossa essência, que aos poucos e ao longo do tempo, vai se reduzindo a um pedacinho morno e inalcançável de nosso eu. 
E então, de repente, percebemos que nossas lembranças são protagonizadas por uma pessoa que não reconhecemos mais, que ficou presa nas grades dos estereótipos e padrões sociais.
A vida corre e nos arrasta violentamente com ela, obrigando-nos a agarrar certas coisas e largar outras. Se soubéssemos segurar e defender a coisa certa por esse caminho repleto de choques e solavancos, não seríamos o que fomos e seremos, mas apenas o que somos, como o vento.


"Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior mas também de acordo com uma necessidade interior."
Albert Einstein

Nicoletta Ceccoli


"A saudade que dói mais fundo - e irremediavelmente - é a saudade que temos de nós." - Mario Quintana

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