quinta-feira, 28 de março de 2013

Sinto falta de mim


O vento varre ruas, acaricia rostos estranhos, pelos e cabelos, arranca folhas, levanta saias, carrega papéis e, mesmo assim, entra pela janela do meu quarto incolor e sem cheiro algum, fazendo-se perceptível apenas pela sutil sensação que provoca na superfície de minha pele e pelo alvoroço de minhas cortinas, sempre muito alegres ao recebê-lo.
O vento transita e se mistura a mundos e pessoas, mas continua sendo o que é. Incorrupto e impassível, ele não se finge de brisa nem de tempestade: é apenas aquilo ali, que todos já conhecemos.
Há de se ter muita coragem para ser como o vento: cru e essencial. Coragem essa que não é digna de todos nós, humanos, que sempre carregamos migalhas dos lugares e dos outros em nossas roupas.
É fatal ao homem essa facilidade de se deixar violar pelo ideal coletivo. Em nosso subconsciente, até aquilo que juramos ser de nossa própria vontade é movido por ideias alheias, pela ética e pela moral. Por esse defeito, pagamos com nossa essência, que aos poucos e ao longo do tempo, vai se reduzindo a um pedacinho morno e inalcançável de nosso eu. 
E então, de repente, percebemos que nossas lembranças são protagonizadas por uma pessoa que não reconhecemos mais, que ficou presa nas grades dos estereótipos e padrões sociais.
A vida corre e nos arrasta violentamente com ela, obrigando-nos a agarrar certas coisas e largar outras. Se soubéssemos segurar e defender a coisa certa por esse caminho repleto de choques e solavancos, não seríamos o que fomos e seremos, mas apenas o que somos, como o vento.


"Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior mas também de acordo com uma necessidade interior."
Albert Einstein

Nicoletta Ceccoli


"A saudade que dói mais fundo - e irremediavelmente - é a saudade que temos de nós." - Mario Quintana

domingo, 17 de março de 2013

E na aula de documentação gráfica...

... Escrevi uma crônica legalzinha.

O nascimento de uma internauta

Há muitos anos atrás, naveguei pela grande rede pela primeira vez. Eu estava com uma amiga na casa de um tio meu, que na época possuía o luxo de poder acessar a internet discada antes da meia-noite. Estávamos entediadas e querendo ir embora, enquanto os adultos se esbanjavam em cerveja e churrasco.

Numa tentativa bem sucedida de nos distrair e fazer com nós parássemos de perturbar nossos embriagados pais, meu tio nos apresentou às salas de bate-papo de um grande provedor e, logo de cara, já sabíamos em qual delas iriamos nos aventurar: paquera. Queríamos nos divertir! Escolhemos um nickname bem conveniente para a situação, do tipo “Gatinhas_Rio_2001” e fomos adiante.

Conhecemos uma, duas, dezenas de pessoas só naquela noite, que cheirava a picanha na brasa e álcool. Gostávamos de poder nos descrever fisicamente, o que fazíamos, obviamente, de forma a valorizar mais do que o bastante os nossos jovens e sutis atributos físicos. Gostávamos de como as pessoas se interessavam por nós, pela forma que falávamos. Sempre diziam que nós parecíamos ser mais velhas do que éramos na época, pela forma como conversávamos com maturidade. Uma maturidade bem questionável, penso eu hoje em dia, já que sempre se tratavam de assuntos bem superficiais e clichês.

O anonimato daquelas pessoas não nos incomodava. Sempre fui uma menina bem coerente e com a cabeça no lugar e, apesar de saber que nem todos que estavam ali eram de fato o que diziam ser, eu gostava de fantasiar sobre aqueles indivíduos, como eles eram, o que faziam, como eram as suas vidas. Era divertido, e para mim isso bastava.

Depois desse dia, passei a frequentar mais a rede. Ficava acordada até tarde, para poder pagar mais barato pela conexão, e perdia horas de sono falando com aqueles personagens criados por pessoas insatisfeitas com o seu próprio eu e entediadas com a rotina e as pessoas que as cercavam.

Algum tempo se passou e eu me dei conta de que a internet era um mundo muito grande para eu me limitar somente aos muros das salas de bate-papo e que o que eu tinha para falar deveria transgredir aquele espaço. Afinal, era possível fazer da internet uma ferramenta para muitas outras coisas e eu sentia que estava perdendo tempo apenas conversando com aquelas pessoas, na maioria das vezes, desinteressantes e promíscuas. Passei, então, a criar e ler blogs, aprender codificação HTML, criar Fotologs, ler notícias, ler tutorias, aprender a manipular imagens, baixar músicas (coisa que, é claro, não faço mais), enfim, conhecer e criar uma infinidade de coisas.

A internet e eu somos bastante íntimas hoje em dia. Ela me dá tudo que busco e eu contribuo com as minhas frases, textos e fotografias. Gosto de olhar para trás e ver como as coisas evoluíram, inclusive eu mesma. Tenho muito a agradecer às “Gatinhas_Rio_2001”, por terem me apresentado a um mundo paralelo e novo, que com maturidade e curiosidade, destrincei a minha maneira.