sábado, 11 de janeiro de 2014

Quando eu via arco-íris

Não sei se o mundo era maior, mas o tempo passava devagar.
Eu costumava deitar no chão de cimento do quintal. Estava sempre morninho depois de passar algumas horas da tarde sob o Sol e exalava um cheiro quente de concreto, o mais nostálgico de minha vida.
Eu podia olhar pela janela quando chovia. Gostava do rugido dos trovões e dos clarões dos raios. Naquele tempo, sentir medo não era um problema: eu tinha o aconchego de um colo adulto e minha casa era uma fortaleza impenetrável, protegida pela inocência que me distanciava de qualquer desastre.
Eu contava meus anos nos dedos das mãos. Projetava no futuro que brilhava a minha frente os desejos e planos mais inconsequentes, com a mesma facilidade que enchia folhas de papel de rabiscos e formas abstratas.
Coloria meus sonhos com as 12 cores da caixa de lápis de cor recém-comprada para a volta às aulas naquela época. Tudo estava sempre bom, perfeito, bonito. Meus erros passavam discretamente, na pontinha dos pés, sem incomodar ninguém.
Eram tempos em que eu vivia as tardes do mundo, em que horas e minutos passavam suavemente por meu rosto, balançando alguns finos fios de me cabelo infantil.
Meu único problema era ser criança. Minha única responsabilidade, crescer.