quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Às vezes no silêncio da noite...

Sabe quando você escuta uma música romântica, profunda, carinhosa e, mesmo que não tenha nada a ver com sua vida, você fica encaixando aqueles flashes bobos, que todos fazemos questão de guardar com zelo na memória, naqueles versos carregados de paixões e sentimentos de outras muitas pessoas que, como você, fizeram a mesma coisa? Então, é tão gostoso.

Entretanto, em dois momentos da minha vida eu me senti totalmente imune a desvanecer naquelas palavras cantadas e arrastadas por melodias mais diversas e igualmente catárticas. Na verdade, é mais correto dizer que me sinto imune, visto que um dos momentos é agora: acho que nunca estive mais vazia de amor. Não é por completo uma coisa ruim, existem outras coisas que podem preencher uma pessoa. Coisas essas que podem até valer mais a pena, vale acrescentar. Lembro-me, também, de ter me sentido imune aos efeitos de uma boa música melancólica ou uma boa baladinha romântica quando meu nível de conformismo dentro de uma antiga relação havia alcançado seu ápice. É um efeito estranho, um dilema introspectivo. Você não está apaixonado o bastante pra sentir aquela pontadinha no coração, porém está conformado demais para admitir que seria até bom chorar pela sua situação. Mais estranho ainda é só perceber isso depois quando, vasculhando minhas lembraças, posso rever tudo em terceira pessoa.

É um bom momento, me arrisco a dizer. Não tenho mais raivas para fomentar, nem amores para alimentar. Pode mandar até a "Sozinho" do Caetano, que a única coisa que sentirei é frustração por ter perdido meu violão no bar e, consequentemente, não ter começado a aprender a tocar. Estou mais pra histeria de um heavy metal e pro clima freak das fotografias da Diane Arbus.



Não tenho nenhum escudo na mão, está mais pra um spray de pimenta.

domingo, 17 de outubro de 2010

Delirium comes today

É estranho andar na rua encarando todos aqueles rostos estranhos, buscando não sei o que. Acredito que seja aquele velho hábito do “homem cordial”, que busca a simpatia alheia e a intimidade nos olhos desconhecidos, mesmo que estas sejam de total inutilidade para seu cotidiano. Que busca aquela coisa morna da compaixão, do reconhecimento. Que precisa de provas tangíveis e empíricas de que não está sozinho, mesmo que precedam e desenvolvam uma infantil ilusão. Que necessitam expandir sua existência para o âmbito social, pois reduzir-se à parte de um todo é mais fácil e mais confortável do que ser o todo em si.

Não acreditava no poder da solidão e ela me assustava na verdade. Porém, vejo que não há nada de tão tenebroso, afinal, nunca se está de fato sozinho. E se está, aproveite para escrever, ouvir um CD ou ler um livro.

"É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil."

(Friedrich Nietzsche)