sábado, 20 de abril de 2013

Um espírito nada santo



O atual presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC), vem dando o que falar desde que tomou posse no cargo.

O que mais revolta a oposição de Feliciano é o caráter explicitamente religioso dos seus atos e afirmações. Conhecido por suas declarações racistas e homofóbicas e por pregar a aversão a essas minorias na sua Igreja, o pastor não poderia ser mais polêmico e controverso ao assumir uma Comissão cuja responsabilidade é justamente discutir meios de melhorar a vida desses brasileiros discriminados pela sociedade.

Seja homossexual, negro, ateu ou mesmo devoto a outra religião, todos são seres amaldiçoados e que ameaçam a família e a ordem divina, segundo o pastor. Não se pode deixar de notar que todas as afirmações ofensivas de Feliciano deixam explícito o ódio entranhado em cada palavra que sai de sua boca. Apesar de sempre se dizer embasado por passagens bíblicas, o deputado não parece se preocupar em contextualizar as suas interpretações demasiadamente obsoletas, se importando mais com o julgamento do bem e do mal do que com o amor ao próximo. Aliás, julgar não parece ser a principal ocupação do popstar evangélico, que vive esmerando-se por aí em vender mais discos e livros e em garantir o dízimo nosso de cada dia.

Fomos arrastados por uma enxurrada de vídeos e recortes de tweets nas redes sociais e nos próprios veículos de comunicação, que deixam bem claro o quanto o pastor anda tirando sinceras vantagens de sua negativa (ou não) onda de sucesso. Seus cultos estão cada vez mais lotados, visto que junto com a multidão que não se cansa de gritar para que o deputado se retire da presidência da Comissão, veio também o "exército de Deus", assim intitulado pelo próprio pastor, armado com seus argumentos divinos e com a ira sagrada do Senhor, pronto para lutar ao lado do abençoado Feliciano.

Os mais desconfiados dizem que todo esse alarde em torno do caso Feliciano está servindo de véu para casos mais relevantes dentro da política, mantendo o povo distraído entre protestos e beijos homoafetivos entre artistas influentes.

Contudo, não podemos fechar os olhos para o lado bom de toda esta bagunça: a sociedade foi cutucada com a vara curta e respondeu violentamente a essa provocação, a ponto de fazer com o que presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), se manifestasse em relação ao caso, alegando estar preocupado com a imagem da Casa perante os brasileiros.

Ainda assim, nem o presidente da Câmara e nem o povo foram o suficiente para que Feliciano sofresse um surto de bom senso e renunciasse ao cargo. Resta-nos, portanto, ao menos transformar todo esse absurdo em humor e dar umas risadas das afirmações infames do pastor.

Infelizmente e mais uma vez, vemos a política brasileira virando piada, mas desta vez fora dos programas humorísticos e dos microfones ousados dos seus repórteres. Em vez disso, vivenciamos um cômico reality show recheado de escândalos e intrigas, mais reality do que show.

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