
Um dos principais argumentos das vadias e simpatizantes é
justamente a generalização que os críticos fazem das manifestantes. Elas alegam
que os episódios que mais chocaram e foram reprovados pela sociedade não faziam
parte do protesto e que não devemos julgar o movimento por esses atos
grosseiros. Pois bem, para começar, um recado para as vadias: se não querem que
generalizemos o movimento de vocês, não generalizem as nossas opiniões. Eu não
sou obrigada a engolir a sua Marcha promíscua, pois tenho essa LIBERDADE. E não
engulo, de modo geral, pois se tornou um protesto totalmente desvirtuado.
Acompanhei alguns momentos através das mídias alternativas e
quase nada pelas tradicionais, ou seja, posso dizer com segurança que meu
cérebro não foi lavado por nenhuma grande emissora de TV ou jornal. O que vi
nas fotos e li nos cartazes não me agradou nem um pouco. Não vi
nenhuma reivindicação muito bem pontuada. Falavam muito de liberdade do corpo,
Estado laico, estupro, aborto, machismo. Ok. E aí? O que as vadias querem mudar
exatamente com isso?
Alguns tópicos são fáceis de esclarecer. Quanto ao aborto,
querem a sua legalização e a aprovação do PLC 3/2013. Em questões de saúde
pública, eu concordo. Porém, abortar é uma coisa que não sei se faria, não somente
por não ser legal, mas porque se acontecesse comigo, seria por culpa minha. A não
ser, é claro, em caso de risco de vida e estupro, o que já é permitido por lei.
A questão do Estado laico está certíssima! É um absurdo que
líderes de grandes instituições religiosas estejam enfurnados nos mais variados
cargos políticos. Eles empacam projetos importantes e são movidos por
interesses alheios aos do povo de modo geral. Isso é completamente sujo e deve
ser mudado. Mas como? É uma mudança possível sob as leis e a nossa
Constituição? Eu ainda não sei, infelizmente, mas acredito que quem estava nas
ruas gritando a plenos pulmões por isso deveria saber.
O estupro... bem, o estupro é crime hediondo, não é? O que
entendi quanto à questão do estupro, na verdade, se aproxima mais de outro
grito das vadias: a liberdade do corpo. Pelo que li sobre a tão comentada
“história da Marcha das Vadias”, tudo começou quando, no Canadá, um guarda
atribuiu parte da culpa de um estupro à forma como a vítima se vestia. Sim, um
absurdo. Mas e daí? Será que elas acham que isso diminui a pena do estuprador?
Ou que a maioria da sociedade concorda com uma barbaridade dessas? É claro que
não!!! Na verdade, quem acha que uma saia curta justifica um estupro é quase
tão doente quanto o criminoso! E essas pessoas existem, assim como existem os
estupradores e outras aberrações. Mas, certamente, não são a maioria.
É certo que essa reivindicação de “liberdade do corpo” é a
mais polêmica. Pode ser ignorância da minha parte, mas não consigo visualizar o
que elas querem com isso. Querem sair com os peitos de fora? Usar saia curta ou
vestido colado sem serem taxadas de piranhas? É isso? Por que se é, estão
perdendo tempo. E não digo por mim, que fique claro. Digo por todos. Se vestir-se
(ou não) dessa forma é tão importante para um grupo de pessoas, eu não estou
nem ligando. Vá em frente e vista-se (ou não) como quiser! Agora, querer
penetrar no subconsciente da sociedade para forçá-la a não julgar ninguém por isso
é acreditar em unicórnios. Nós julgamos os outros o tempo todo, falamos mal das
pessoas em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Isso é intrínseco ao ser
humano. Se elas acham que essa marcha vai mudar esse fato, estão enganadas.
As mulheres são livres para usar o que quiserem e mostrar o que quiserem também, contanto que aceitem os olhares tortos dos outros ou encarem o desafio de quebrar o prejulgamento daqueles que se aproximarão delas e terão a oportunidade de conhecê-las de fato, pois esta sim é uma forma efetiva de mudar aos poucos a cabeça das pessoas.
Havia também outra palavra que enchia os cartazes
das vadias: o machismo. Sim, os homens vão te julgar. Sei que muitas mulheres
não se interessam nessa parte, mas ainda há aquelas que sim, então vale dizer
mais uma vez: os homens vão te julgar! Triste, não é? Mas é verdade e até tem
fundamento. Ainda existem pessoas na Terra que querem viver uma vida em casal,
com companheirismo e confiança, que querem ter filhos e planos. E por isso, da
mesma forma como as mulheres repelem os homens taxados como “galinhas”, aqueles
que se acham LIVRES para fazer o que quiserem o tempo todo, eles também repelem
as mulheres taxadas de “vadias”. Para pessoas que
querem alguém com quem se estabilizar, toda essa LIBERDADE assusta, de ambos os
lados. E dessa precaução, nasceu o preconceito tão atacado pelas vadias.
Outra abordagem interessante das manifestantes era contra os
padrões de beleza atuais. Concordo com esse ponto, afinal, muitas mulheres são
agredidas diariamente por esses estereótipos que ditam que beleza é ter o corpo
magro e esculpido, os cabelos lisos, o nariz fino e os peitos grandes. De fato, isso é uma forma violência. Porém,
mais uma vez nos deparamos com questões culturais e sociológicas. E como se
leva tempo para mudar a cabeça de tanta gente! Principalmente enquanto continuarmos
nos deparando com propagandas que tratam a mulher como objeto e enquanto chamar
alguém de “gordo” ou “feio” for uma grande ofensa.
Despertou-me a curiosidade quando vi tantas pessoas
comentando sobre a história dessa marcha e jogando na cara daquelas que
criticavam o movimento que elas tinham muito que agradecer às vadias. Contudo,
dei uma olhada nessa tal história, de apenas três anos, e não encontrei nenhuma
conquista especificada, pelo menos no caso da marcha no Brasil. Talvez estejamos
sendo muito cruéis com a Marcha das Vadias. Talvez o que ela esteja precisando seja evoluir e se tornar um movimento mais concreto e sério.
Em meio aos sites feministas por onde passei, contudo, achei
uma segunda marcha muito interessante. O nome é Marcha das Margaridas e ela é
organizada por mulheres trabalhadoras rurais, a fim de combater a fome, a
pobreza e a violência sexista, além de pedir por paz e igualdade de gênero.
Esse movimento, ao contrário da Marcha das Vadias, acumula algumas conquistas
políticas e sociais relevantes em sua história.
O que apodreceu a marcha que aconteceu nesse último fim de
semana, na verdade, não foram os seus argumentos, mas sim a vulgarização do
protesto, que deveria chamar mais atenção pelas suas reivindicações do que pela
polêmica que gerou. As cenas de pessoas quebrando e fazendo gestos obscenos com
imagens sagradas para os católicos (com o consentimento das demais
manifestantes que estavam ao redor, que inclusive fizeram um cordão de
isolamento), bem no meio de um dos maiores eventos dessa religião no mundo,
manifestantes bebendo e fazendo demonstrações vulgares na frente de idosos e
crianças, tudo isso foi uma falta de respeito desnecessária, que apenas chocou
as pessoas e nada mais. Aqueles que pensam com suas cabeças “machistas”,
continuaram e continuarão pensando da mesma forma após esse protesto. Na
verdade, as vadias só pioraram a imagem dos movimentos feministas
perante a sociedade.
Fico na torcida para que essa marcha, numa próxima
oportunidade, se concentre mais no que pede, amadureça e se torne de fato um
movimento forte e respeitado que, principalmente, respeita as diversidades,
inclusive a religiosa.
Contabilizem uma conquista na lista da Marcha das Vadias: a
consciência de que se pode fazer bem melhor. Boa sorte no próximo ano.