Entretanto, em dois momentos da minha vida eu me senti totalmente imune a desvanecer naquelas palavras cantadas e arrastadas por melodias mais diversas e igualmente catárticas. Na verdade, é mais correto dizer que me sinto imune, visto que um dos momentos é agora: acho que nunca estive mais vazia de amor. Não é por completo uma coisa ruim, existem outras coisas que podem preencher uma pessoa. Coisas essas que podem até valer mais a pena, vale acrescentar. Lembro-me, também, de ter me sentido imune aos efeitos de uma boa música melancólica ou uma boa baladinha romântica quando meu nível de conformismo dentro de uma antiga relação havia alcançado seu ápice. É um efeito estranho, um dilema introspectivo. Você não está apaixonado o bastante pra sentir aquela pontadinha no coração, porém está conformado demais para admitir que seria até bom chorar pela sua situação. Mais estranho ainda é só perceber isso depois quando, vasculhando minhas lembraças, posso rever tudo em terceira pessoa.
É um bom momento, me arrisco a dizer. Não tenho mais raivas para fomentar, nem amores para alimentar. Pode mandar até a "Sozinho" do Caetano, que a única coisa que sentirei é frustração por ter perdido meu violão no bar e, consequentemente, não ter começado a aprender a tocar. Estou mais pra histeria de um heavy metal e pro clima freak das fotografias da Diane Arbus.

Não tenho nenhum escudo na mão, está mais pra um spray de pimenta.