O vento varre ruas, acaricia rostos
estranhos, pelos e cabelos, arranca folhas, levanta saias, carrega
papéis e, mesmo assim, entra pela janela do meu quarto incolor e sem
cheiro algum, fazendo-se perceptível apenas pela sutil sensação
que provoca na superfície de minha pele e pelo alvoroço de minhas
cortinas, sempre muito alegres ao recebê-lo.
O vento transita e se mistura a mundos
e pessoas, mas continua sendo o que é. Incorrupto e impassível, ele
não se finge de brisa nem de tempestade: é apenas aquilo ali, que
todos já conhecemos.
Há de se ter muita coragem para ser
como o vento: cru e essencial. Coragem essa que não é digna de
todos nós, humanos, que sempre carregamos migalhas dos lugares e dos
outros em nossas roupas.
É fatal ao homem essa facilidade de se
deixar violar pelo ideal coletivo. Em nosso subconsciente, até
aquilo que juramos ser de nossa própria vontade é movido por
ideias alheias, pela ética e pela moral. Por esse defeito, pagamos
com nossa essência, que aos poucos e ao longo do tempo, vai se
reduzindo a um pedacinho morno e inalcançável de nosso eu.
E então, de repente, percebemos que nossas lembranças são protagonizadas por uma pessoa que não reconhecemos mais, que ficou presa nas grades dos estereótipos e padrões sociais.
E então, de repente, percebemos que nossas lembranças são protagonizadas por uma pessoa que não reconhecemos mais, que ficou presa nas grades dos estereótipos e padrões sociais.
A vida corre e nos arrasta
violentamente com ela, obrigando-nos a agarrar certas coisas e largar
outras. Se soubéssemos segurar e defender a coisa certa por esse
caminho repleto de choques e solavancos, não seríamos o que fomos e
seremos, mas apenas o que somos, como o vento.
"Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior mas também de acordo com uma necessidade interior."
Albert Einstein
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Nicoletta Ceccoli |
"A saudade que dói mais fundo - e irremediavelmente - é a saudade que temos de nós." - Mario Quintana