- Eu sou má? - perguntava-se, num sussurro íntimo. As palavras ecoavam silenciosamente dentro de sua cabeça.
Lembrava-se de quando era criança e gargalhava das limitações de seus coleguinhas, e de quantas vezes transformou o constrangimento alheio em risadas.
- Por quê? – insistia.
Pensou na força que tinha que fazer para não desejar que as coisas dessem errado para certas pessoas. Força essa resultante do atrito entre o politicamente correto e a selvageria engaiolada nas masmorras de sua alma.
- Mas eu ajudo os outros. Tenho carinho por meus amigos e familiares. –tentava se explicar para si mesma.
Assustava-se com seus próprios argumentos. Seu caráter mais se aproximava de um primitivo instinto animal: prezava verdadeiramente apenas por suas crias, seu bando.
- Eu tenho amor ao próximo, sim! – bradava para dentro, como se em algum lugar no interior de seu corpo, alguém a pudesse ouvir.
Uma vergonha cortante atravessava seu peito: pensava em quantos sorrisos já teve que conter ao presenciar o fracasso de terceiros.
Sentia-se mentalmente perturbada com os traços psicopatas, bipolares e esquizofrênicos que iam se exteriorizando no decorrer de seu monólogo.
- Não é minha culpa. É que algumas pessoas fazem por merecer uns tropeços. – justificou e julgou.
Estava fraca, escassa de poréns e porquês. Sua maldade era fato. Não tinha jeito.
- Mas não é somente minha essa maldade. É de todos. Hipócritas aqueles que se dizem bons. – atacou os homens, por serem os lobos de sua própria espécie.
Era mais fácil assim: reduzir-se a uma partícula dessa massa heterogênea que é a humanidade. Não havia a pressão de ser o todo, o sujeito. Acreditar que o mal é intrínseco à raça humana dissolvia a culpa ardente que a consumia.
Sem se importar, abraçou suas frágeis desculpas e seu travesseiro.
- Que mal há em ser mau quando todos o são? Existe o bem afinal?
Era inútil procurar por bondade neste mundo tão cheio de realidades.
O cansaço a vencia. Imaginando se encontraria o bem dormindo em alguma calçada nas esquinas de seu subconsciente, adormeceu.
Aí eu volto acá, no Melocotón, sempre guiado pelas mãos sensíveis do amigo Gilson Caroni Filho e quero aqui fazer uma confissão de culpa: Ando meio relapso, quando deveria vir sempre nesse espaço privilegiado, onde sempre Larissa Acosta escreve coisas que realmente valem a pena ser lidas, coisas que nos levam a refletir e concluir que há sim, vida inteligente no planeta. Eu adorei, eu devo sim, é me penitenciar e vir com mais frequência e me deleitar com boa leitura, pois sou um tolo em não fazer essa viagem, sempre!
ResponderExcluirMuito bommm...
ResponderExcluirAssustava-se com seus próprios argumentos. Seu caráter mais se aproximava de um primitivo extinto animal: prezava verdadeiramente apenas por suas crias, seu bando.
ResponderExcluirTão humano, tão mãe que almbe suas crias e defende o seu rebanho... quem nunca fez?
Muito bom texto! Parabéns!
ResponderExcluirEliete Ferrer
Obrigada, gente!
ResponderExcluirBom texto para refletirmos, e, claro, todos temos nossas maldades, ainda que muitos, a maioria, creio eu, sejam apenas maldades interiores. O problema é quando passamos a exteriorizá-las demais.
ResponderExcluirBelo texto descrevendo a consciência....
ResponderExcluirParabéns talentosa Larissa Acosta.
ResponderExcluirUm avistamento!
ResponderExcluirUma sombra de luz!
EDUARDOCAETANO.
Larissa, seu texto é bem escrito tecnicamente, bem elaborado, e extremamente inteligente! Isso se chama estudo e talento! Parabéns, moça! Continue assim!
ResponderExcluir(Jaqueline Quiroga)
Talentosa, essa menina vai longe.
ResponderExcluirÉ muito interessante mesmo o questionamento do bem e do mal, como somos, como nos vemos e como os outros nos vêem. Essa necessidade louca de perfeição sempre. Parabéns.
ResponderExcluirHá, sim, uma interseção entre o bem e o mal! E Larissa soube ambientá-la
ResponderExcluirShow!
Obrigada! Espero vocês nos comentários de meu próximo texto. Um beijão!
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